Rápido e Devagar
Daniel Kahneman

Mostra como pensamos de duas formas:

Sistema 1: rápido, automático, emocional.

Sistema 2: lento, lógico, deliberado.

O livro revela como esses dois sistemas influenciam nossas decisões e nos levam a erros sistemáticos (viéses cognitivos),
mesmo quando achamos que estamos sendo racionais.

Sumário

Vocabulário

Erros sistemáticos são conhecidos como vieses, e se repetem de forma previsível em circunstâncias particulares.

Introdução

Espero enriquecer o vocabulário que as pessoas usam quando conversam sobre os julgamentos e escolhas dos outros, as novas políticas da empresa ou as decisões de investimento de algum colega. Por que damos ouvidos a fofocas? Porque é muito mais fácil, além de ser muito mais prazeroso, identificar e classificar os erros dos outros do que reconhecer nossos próprios erros. Questionar aquilo em que acreditamos e o que queremos já é difícil quando tudo vai bem, e particularmente difícil quando mais precisamos fazê-lo, mas podemos tirar proveito de opiniões fundamentadas. Muitos de nós antecipam espontaneamente como os amigos e colegas vão avaliar nossas escolhas; portanto, a qualidade e o conteúdo desses julgamentos antecipados faz diferença.

A maioria das impressões e pensamentos surge em sua experiência consciente sem que você saiba como foram parar lá. O trabalho mental que gera impressões, intuições e diversas decisões ocorrem silenciosamente em nossa cabeça.

Grande parte da discussão neste livro refere-se a vieses de intuição. Entretanto, o foco no erro não denigre a inteligência humana, assim como a atenção com as doenças na literatura médica não significa rejeitar a boa saúde. A maioria de nós é saudável a maior parte do tempo, e a maioria de nossos julgamentos e ações é apropriada na maior parte do tempo. Conforme determinamos o curso de nossas vidas, normalmente nos permitimos nos guiar por impressões e sentimentos, e a confiança que temos em nossas crenças e preferências intuitivas em geral é justificada. Mas nem sempre. Muitas vezes estamos confiantes mesmo quando estamos errados, e um observador objetivo tem maior probabilidade de detectar nossos erros do que nós mesmos.

Aperfeiçoar a capacidade de identificar e compreender erros de julgamento e escolha, nos outros e afinal em nós mesmos, propiciando uma linguagem mais rica e mais precisa para discuti-los. Pelo menos em alguns casos, um diagnóstico acurado pode sugerir uma intervenção para limitar o dano que julgamentos e escolhas ruins muitas vezes ocasionam.

Origens

Este livro apresenta meu atual entendimento sobre o julgamento e a tomada de decisões, que foi moldado pelas descobertas das últimas décadas no campo da psicologia. Contudo, as ideias centrais remontam ao auspicioso dia de 1969, quando pedi a um colega que falasse como convidado em um seminário que eu conduzia no Departamento de Psicologia da Universidade Hebraica de Jerusalém. Amos Tversky era considerado uma estrela em ascensão no campo de estudo sobre tomada de decisões — na verdade, em qualquer coisa que fizesse.

Amos contou a meus alunos sobre um programa de pesquisa em andamento na Universidade de Michigan cujo intuito era responder à seguinte questão:

As pessoas são bons estatísticos intuitivos?

Nossos julgamentos subjetivos eram tendenciosos: mostrávamos uma predisposição excessiva a acreditar em resultados de pesquisa baseados em evidência inadequada e inclinados a coligir pouquíssimas observações em nossa própria pesquisa. O objetivo de nosso estudo era examinar se outros pesquisadores sofriam do mesmo mal.

Como esperado, descobrimos que nossos colegas especialistas, como nós, exageravam enormemente a probabilidade de que o resultado original de um experimento seria reproduzido com êxito mesmo para uma amostra pequena. Mesmo estatísticos não eram bons estatísticos intuitivos.

Éramos suficientemente parecidos para compreender um ao outro com facilidade, e suficientemente diferentes para surpreender um ao outro.

A confiança na heurística provocava vieses previsíveis (erros sistemáticos)
nas previsões.

Parte 1

Os Personagens da História

Os riscos do resultante

Aqui!!

Qual Deve ser a Sua Riqueza?

Outra maneira de definir se uma pessoa, um domicílio, ou uma família é rica baseia-se na expectativa de patrimônio líquido da pessoa. A renda e a idade são fortes  determinadores do quanto ela deveria ter. Em outras palavras, quanto mais alta a renda, mais alto se espera que seja o patrimônio líquido (assumindo que a pessoa esteja trabalhando e não aposentada). Da mesma forma, se uma pessoa vem gerando renda há mais tempo, é mais provável que ela tenha acumulado mais riqueza. Assim, as pessoas de renda mais alta e que são mais velhas devem ter acumulado mais riqueza do que os geradores de baixa renda que são mais jovens.

VICTOR E SEUS FILHOS

Considere o caso de Victor, um empresário bem-sucedido que é um americano de primeira geração. Empresários como ele sempre se caracterizaram por sua economia, pouco status, disciplina, baixo consumo, risco e muito trabalho duro. Mas depois que essas maravilhas genéticas se tomam sucessos financeiros, o que acontece? O que eles ensinam aos seus filhos? Será que eles os incentivam a seguir o exemplo do pai? Será que seus filhos também setor nam donos de empresas de escavações, conserto de telhados, negociantes de ferro-velho e assim por diante? Com toda a probabilidade, não. Menos de um em cinco segue essas carreiras.

Não, Victor quer que seus filhos tenham uma vida melhor. Ele os incentiva a passar muitos anos na faculdade. Victor quer que seus filhos se tornem médicos, advogados, contadores, executivos e assim por diante. Mas ao incentivá-los a isso, na essência Victor os está desencorajando a se tornarem empreendedores. Sem saber, ele os está incentivando a adiar sua entrada no mercado de trabalho. E, naturalmente, ele os incentiva também a rejeitar seu estilo de vida frugal e seu ambiente auto-imposto de escassez.

Victor quer que seus filhos tenham uma vida melhor. Mas o que exatamente Victor quer dizer com isso? Ele quer dizer que seus filhos devem ter uma boa educação e um status ocupacional muito mais alto do que ele próprio teve. Para ele, ”uma vida melhor” também significa ter coisas melhores: belas casas, automóveis novos de luxo, roupas de boa qualidade, ser sócio de certos clubes. Mas Victor se esqueceu de incluir nesta definição do que é ”melhor” muitos elementos que foram as pedras fundamentais do seu próprio sucesso. Ele não percebe que ter uma boa formação também
acarreta certas desvantagens econômicas.

Os filhos adultos de Victor, instruídos como são, já aprenderam que se espera um alto nível de consumo das pessoas que passam muitos anos numa universidade ou numa escola profissional. Hoje seus filhos são SAR. São o oposto de seu pai, o negociante bem-sucedido que andava de macacão azul. Seus filhos estão americanizados. Eles são parte da geração de alto consumo e de adiamento do emprego.

Quantas gerações são necessárias para que um grupo étnico que hoje contém milhares de Victors se torne americanizado? Não mais que algumas poucas. A maior parte passa para a faixa ” americana normal” dentro de uma ou duas gerações. E por isso que a América precisa de um fluxo constante de imigrantes com a coragem e a tenacidade de Victor. Esses imigrantes e seus filhos são constantemente necessários para substituir os Victors da América.

Parte 2

Heurísticas e Vieses

10. A Lei dos Números Pequenos

A principal lição a ser aprendida é sobre o difícil relacionamento entre nossas mentes e as estatísticas. O Sistema 1 é altamente proficiente numa forma de pensamento — automaticamente e sem esforço ele identifica ligações causais entre eventos, às vezes mesmo quando a ligação é espúria.

  • Amostras pequenas fornecem resultados extremos com mais frequência do que amostras grandes o fazem.

Pesquisadores que pegam uma amostra pequena demais se põem à mercê do acaso da amostragem. Psicólogos comumente escolhem amostras tão pequenas que expõem a si próprios a um risco de 50% de fracasso na confirmação de suas verdadeiras hipóteses. Eu rotineiramente escolhera amostras que eram pequenas demais e muitas vezes obtivera resultados que não faziam sentido.

Uma Tendência a Confiar em vez de Duvidar

O Sistema 1 não é propenso a duvidar. Ele suprime a ambiguidade e espontaneamente constrói histórias que são tão coerentes quanto possível. A menos que a mensagem seja imediatamente desaprovada, a associação que ela evoca se espalhará como se a mensagem fosse verdadeira. O Sistema 2 é capaz de duvidar, pois consegue manter possibilidades incompatíveis ao mesmo tempo. Entretanto, sustentar uma dúvida é um trabalho mais árduo do que passar suavemente a uma certeza. A lei dos pequenos números é a manifestação de um viés geral que favorece a certeza sobre a dúvida, que vai aparecer sob inúmeros disfarces nos capítulos seguintes.

A fé exagerada dos pesquisadores no que pode ser aprendido de umas poucas observações relaciona-se estreitamente com o efeito halo, a sensação que muitas vezes temos de conhecer e compreender uma pessoa sobre a qual na verdade sabemos muito pouco. O Sistema 1 se antecipa aos fatos ao construir uma imagem rica com base em fragmentos de evidência. Uma máquina de tirar conclusões precipitadas agirá como se acreditasse na lei dos pequenos números. De modo mais geral, vai produzir uma representação da realidade que faz sentido demais.

Causa e Acaso

Nossa predileção pelo pensamento causal nos expõe a graves enganos ao estimar a aleatoriedade de eventos verdadeiramente aleatórios.

Somos ávidos por padrões, temos fé em um mundo coerente, em que as regularidades não aparece por acidente, mas como resultado de uma causalidade mecânica ou da intenção de alguém. Processos aleatórios produzem muitas sequências que convencem as pessoas de que o processo afinal de contas não é aleatório. Você pode perceber por que a pressuposição de causalidade teria apresentado vantagens evolutivas. Ela é parte da vigilância geral que herdamos de nossos ancestrais. Estamos automaticamente em busca da possibilidade de que o ambiente tenha mudado. Leões podem aparecer na planície em ocasiões aleatórias, mas seria mais seguro notar e reagir a um aparente aumento na taxa de aparecimento de bandos de leões, mesmo que isso na verdade seja devido a flutuações no processo aleatório.

O “fato” de que os jogadores ocasionalmente ficam com uma hot hand (“mão quente”, isto é, sortuda, certeira) é algo de modo geral aceito por jogadores, treinadores e torcedores. A inferência é irresistível: um jogador faz três ou quatro cestas numa sequência e você não consegue deixar de formar o julgamento causal de que esse jogador agora está com a mão quente, uma propensão temporariamente aumentada de fazer pontos. Análises de milhares de sequências de arremessos levaram a uma conclusão decepcionante: não existe esse negócio de mão quente no basquete profissional, seja durante o andamento do jogo, seja no arremesso livre. Claro que alguns jogadores são mais precisos do que outros, mas a sequência de sucessos e arremessos perdidos satisfaz todos os testes de aleatoriedade. A mão quente está inteiramente nos olhos de quem vê, que é invariavelmente muito rápido em perceber ordem e causalidade no aleatório. A mão quente é uma ilusão cognitiva maciça e popular.

A ilusão de padrão afeta nossas vidas de muitas maneiras fora da quadra de basquete. Quantos anos bons você deve esperar antes de concluir que um consultor de investimento exibe uma capacidade fora do comum? Quantas fusões bem-sucedidas serão necessárias até um conselho de diretores acreditar que o CEO tem um faro extraordinário para negociações desse tipo? A resposta simples para essas perguntas é que se você segue sua intuição, vai cometer com frequência o erro de classificar equivocadamente um evento aleatório como sistemático. Mostramos uma inclinação grande demais em rejeitar a crença de que grande parte do que vemos no mundo é aleatório.

Cerca de 1,7 bilhão de dólares, que a Gates Foundation fez para dar prosseguimento a descobertas intrigantes sobre as características das escolas de mais sucesso. Uma das conclusões dessa pesquisa é que as escolas mais bem-sucedidas, em média, são pequenas. Em um levantamento entre 1.662 escolas na Pensilvânia, por exemplo, seis das cinquenta melhores eram pequenas, o que é uma super-representação por um fator de quatro. Esses dados encorajaram a Gates Foundation a fazer um investimento substancial na criação de pequenas escolas, às vezes dividindo escolas maiores em unidades menores.

Isso provavelmente faz sentido intuitivamente para você. É fácil elaborar uma narrativa causal que explique como escolas pequenas são capazes de fornecer educação de melhor nível e assim produzir estudantes de alto nível ao lhes proporcionar mais atenção pessoal e encorajamento do que teriam em escolas maiores. Infelizmente, a análise causal é inútil porque os fatos estão errados. Se os estatísticos que fizeram o relatório para a Gates Foundation tivessem perguntado sobre as características das piores escolas, teriam descoberto que escolas ruins também tendem a ser menores do que a média. A verdade é que escolas pequenas não são melhores em média; são simplesmente mais variáveis.

  • A fé exagerada em amostragens pequenas é apenas um exemplo de uma ilusão mais geral — prestamos mais atenção ao conteúdo das mensagens do que à informação sobre sua confiabilidade, e como resultado terminamos com uma visão do mundo em torno de nós que é mais simples e mais coerente do que os dados justificam. Pular para conclusões precipitadas é um esporte mais seguro no mundo de nossa imaginação do que é na realidade.
  • As estatísticas produzem muitas observações que parecem pedir por explicações causais, mas
    que não se prestam a tais explicações. Muitos fatos do mundo devem-se ao acaso, incluindo acidentes de amostragem. Explicações causais de eventos ao acaso estão inevitavelmente erradas.

11. Âncoras

Efeito de ancoragem. Ele acontece quando as pessoas consideram um valor particular para uma quantidade desconhecida antes de estimar essa quantidade. O que ocorre é um dos resultados mais confiáveis e robustos da psicologia experimental: a estimativa fica perto do número que as pessoas consideraram — por isso a imagem de uma âncora.

A Ancoragem como um Ajuste

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