Princípios, de Ray Dalio, apresenta lições de vida e trabalho baseadas em transparência radical, meritocracia de ideias e decisões fundamentadas em dados. Ele defende a importância de aprender com erros, adotar sistemas eficientes e focar em objetivos claros, oferecendo estratégias práticas para alcançar sucesso pessoal, profissional e organizacional com consistência.
Independentemente do sucesso que tive na vida, tudo se deve mais a ter aprendido a lidar com o meu não saber do que com algo que de fato eu saiba. A coisa mais importante que aprendi foi uma abordagem para a vida com base em princípios que me ajuda a descobrir o que é certo e o que fazer a respeito disso.
Princípios são verdades fundamentais que servem como base para um comportamento que proverá aquilo que você deseja na vida. Eles podem ser aplicados repetidamente em situações similares para ajudá-lo a conquistar seus objetivos.
Todos os dias, somos bombardeados por situações que exigem um posicionamento. Sem princípios, seríamos forçados a reagir a tudo que a vida joga sobre nós individualmente, como se vivenciássemos cada situação pela primeira vez. Porém, se classificarmos essas situações em categorias e pusermos de bons princípios para lidar com elas, seremos capazes de tomar decisões adequadas mais rapidamente e, como resultado, melhorar nossa qualidade de vida. Ter um bom conjunto de princípios é como ter uma boa coleção de receitas para o sucesso. Em busca do êxito, todas as pessoas bem-sucedidas agem segundo princípios, embora eles variem enormemente de acordo com o indivíduo e com a área em que escolheram ter suas conquistas.
Ser uma pessoa de princípios significa agir de maneira consistente com esses princípios, que, por sua vez, precisam ser bem fundamentados. Infelizmente, a maiorianão consegue realizar isso. E é bastante raro alguém colocar seus princípios no papel e compartilhá-los, o que é uma pena. Eu adoraria conhecer os princípios que guiaram Albert Einstein, Steve Jobs, Winston Churchill, Leonardo da Vinci, etc…
Sejamos diretos: vivemos um tempo em que é especialmetne importante que sejamos claros a respeito dos princípios que nos guiam.
Torço para que este livro estimule você a descobrir seus próprios princípios nas fontes que julgar mais adequadas e que, em um cenário ideal, você os coloque no papel. Fazer isso trará bastante clareza sobre quais são os princípios de cada um e ajudará a se compreenderem melhor. Permitirá que você refine esses princípios à medida que se deparar com novas experiências e que reflita a respeito deles. Isso o auxiliará a tomar decisões melhores e a ser mais bem compreendido.
Cada um de nós estabelece os princípios de maneiras diferentes. Às vezes, por meio das próprias experiências e reflexões. Em outras, eles nos são passados por terceiros, como nossos pais. Em um terceiro cenário, adotamos pacotes holísticos de princípios, como os advindos de religiões e enquadramento jurídicos.
Por termos natureza e objetivos individuais, cada um de nós deve escolher princípios que correspondam a esses dois aspectos. Para atrair o máximo da vida é preciso reunir coragem para pensar de forma independente, mantendo a mente aberta e lúcida a fim de descobrir o melhor rumo a tomar. Se não for possível em um primeiro momento, procure refletir sobre os motivos que o impedem — provavelmente são eles o maior obstáculo no caminho de obter mais daquilo que você quer da vida.
… e faça isso com humildade e mente aberta, porque só assim é possível chegar a uma fórmula adequada. É importante ser claro a respeito dos prórpios princípios, porque eles afetarão todos os aspectos da sua vida, diversas vezes ao dia. Por exemplo, nas relações, os nossos princípios e os dos outros determinam como será nossa interação. Pessoas que compartilham dos mesmo valores e princípios se dão bem. Quando os princípios se chocam, a relação está fadada a mal-entendidos e conflitos. Pense nas pessoas mais próximas em seu círculo social: os valores estão alinhados com os seus? Você nem sabe quais são os valores ou princípios delas? Frequentemente os princípios das pessoas com quem nos relacionamosnão estão claros. Esse aspecto é especialmente problemático em situações de trabalho, em que é preciso que a equipe compartilhe princípios em busca de sucesso. Ser cristalino a respeito dos meus princípios é a razão pela qual me dediquei tanto a elaborar cada frase deste livro.
Os princípios que você adota podem ser qualquer coisa, desde que sejam autênticos — isto é, desde que reflitam genuinamente seus valores e seu caráter. É preciso ser claro sobre seus princípios, e as ações devem ser um reflexo dos discurso.
Aprendi os meus princípios ao longo da vida, cometendo vários erros e gastando muito tempo refletindo a respeito deles. Desde pequeno, sempre fui um pensador independente que perseguia metas audaciosas. Eu ficava entusiamado ao visualizar objetivos e tive alguns fracassos dolorosos tentando alcançá-los. Mas, ao mesmo tempo aprendi princípios que me ajudaram a não repetir os erros, mudei e melhorei, tornando-me capaz de projetar e perseguir objetivos ainda mais ousados. Também passei a ser capaz de fazer isso com rapidez e consistência durante muito tempo.
Creio que o segredo para o sucesso esteja em saber lutar por um grande objetivo e em fracassar bem, isto é, ser capaz de experimentar fracassos dolorosos — fonte de grande aprendizado —, mas não um fracasso grande o suficiente para tirá-lo do jogo.
Meus erros dolorosos fizeram com que minha perspectiva mudasse para “Como é que sei que estou certo?”. Saber que eu poderia estar errado e questionar por que outras pessoas inteligentes viam as coisas sob outra óptica me levaram a olhar para tudo não só com os meus olhos, mas também com os dos outros. Isso me permitiu enxergar muito mais dimensões. Aprender a pesar as opiniões de terceiros e filtrá-las em busca do melhor.
… formulados com objetividade suficiente para que sua lógica seja avaliada, deixando claro a todos que suas ações corroboram seu dircurso. A experiência me ensinou quão valioso é refletir a respeito dos meus critérios para tomar decisões, bem como colocá-los no papel sempre que for preciso deliberar sobre algo. Com o tempo, minha coleção de princípios se tornou uma espécie de coleção de receitas para meu processo decisório.
Descobri que podia fazer isso expressando meus critérios em forma de algoritmos que, por sua vez, pudessem ser executados por computador. Ao executar paralelamente os dois sistemas de tomada de decisão — o que opera dentro da minha cabeça e o que opera no computador —, descobri que a máquina é capaz de tomar decisões melhores porque é capaz de processar um número de informações muito maior do que o meu cérebro, sem a influência das emoções e mais rapidamente.
O tempo é com um rio que nos leva adiante para encontros com a realidade. Ela, por sua vez, exigirá que tomemos decisões. Não podemos parar nosso curso nem evitar tais encontros. Mas podemos, sim, abordá-los da melhor maneira possível.
Quando somos crianças, outras pessoas, em geral nossos pais, nos guiam durante os encontros com a realidade. À medida que crescemos, começamos a fazer nossas próprias escolhas. Decidir o que perseguiremos (os objetivos) influencia nossos caminhos. Ao perseguir essas metas, enfrentamos problemas, cometemos erros e nos deparamos com nossas fraquezas. Aprendemos sobre nós mesmos, sobre a realidade, e tomamos novas decisões. Ao longo da vida tomaremos milhões e milhões de decisões que serão, essencialmente, apostas, algumas delas grandes, outras pequenas. Vale a pena pensar no que nos leva a tomar um ou outro caminho porque, no fim das contas, são eles que determinam nossa qualidade de vida.
Ninguém nasce com aptidões para tomar decisões. Nós as aprendemos a partir dos encontros com a realidade. Embora o caminho trilhado por mim seja único — tendo nascido de pais específicos, buscando uma carreira específica, tendo colegas específicos —, creio que os princípios que aprendi durante a jornada funcionem igualmente bem para a maioria das pessoas e dos caminhos possíveis. Ao avançar por esta parte do livro, tente deixar minha imagem de lado e se concentrar nas relações de causa e efeito subjacentes — as escolhas que fiz e suas consequências, o que aprendi com elas e como modificaram meu processo de tomada de decisão.
Nasci em 1949 e cresci em um bairro de classe média de Long Island, filho único de um músico de jazz profissional e uma mãe em tempo integral. Era um garoto comum, vivendo em uma casa comum, e um aluno abaixo da média. Adorava passar o tempo com os amigos — jogando futebol, quando pequeno, e correndo atrás de garotas, quando mais velho.
Minha fraqueza é uma péssima capacidade de memorização e não gosto de seguir instrução. Sempre fui bastante curioso e adoro descobrir as coisas por mim mesmo.
A necessidade de memorização não era o único motivo pelo qual eu não gostava da escola; a maioria das coisas que os professores julgavam importantes não pareciam relevantes para mim. Por isso, nunca entendi os benefícios de me sair bem na escola além, da aprovação da minha mãe.
Eu me opunha sempre que não queria fazer algo, mas quanod alguma tarefa me animava, eu era irrefreável.
A psicologia dos Estados Unidos dos anos 1960 era caracterizada por aspiração e inspiração — atingir metas grandiosas e nobres. Diferente de tudo que vi desde então. Uma das minhas primeiras lembranças é de John F. Kennedy, um homem inteligente e carismático com visões grandiosas de mudar o mundo para melhor — explorar o espaço, conquistar igualdade de direitos e eliminar a pobreza. Ele e suas ideias tiveram um forte impacto na minha maneira de pensar.
Sempre fui um pensador independente inclinado a assumir riscos em busca de recompensas — não apenas na bolsa de valores, mas na maioria das coisas. Sempre tive muito mais medo do tédio e da mediocridade do que do fracasso.
” Se um homem marcha a um passo diferente daquele de seus companheiros é porque ouve outro tambor. Deixe que siga o som que escuta, ainda que seja lento e distante. “
——Nesse período surpresas econômicas desagradáveis levaram a quedas inesperadas e significativas. Não apenas a economia e os mercados decaíram; o sentimento social das massas também se deteriorou. Viver nessa época me ensinou que, embora quase todos esperem que o futuro seja uma versão ligeiramente modificada do presente, na prática é bastante diferente. Certo de que em algum momento as ações reagiriam, continuei comprando mesmo com o mercado em queda. Perdi dinheiro até entender o que estava acontecendo de errado e aprendeer como poderia lidar com isso. Fui notando aos poucos que os preços refletem as expectativas humanas: sobem quando os resultados são melhores do que o esperado e caem quando piores. E o julgamento da maioria das pessoas costuma ser influenciado por experiência recentes.
Os Estados Unidos perdiam a guerra; no mesmo ano, Lyndon Johnson decidiu não concorrer a um segundo mandato e Richard Nixon foi eleito, dando início a uma era ainda mais difícil. Ao mesmo tempo,o então presidentre da França, Charles de Gaulle, estava convertendo as reservas em dólar do seu país por ouro, convencido de que os Estados Unidos estavam imprimindo dinheiro para financiar gastos com a guerra.
Por volta de 1970 ou 1971, notei que o ouro estava começando a valorizar nos mercados globais. Até então, como a maioria das pessoas, eu não prestava muita atenção às taxas de câmbio porque o sistema cambial havia se mantido estável diramte toda a minha vida. Aprendi que outras moedas tinham seu valor fixado em relação ao dólar, que o dólar era fixado em relação ao ouro, que os americanos não tinham permissão para possuir ouro e que outros bancos centrais podiam converter suas células de dólares em ouro, maneira pela qual se asseguravam de que não seriam prejudicados se os Estados Unidos imprimissem dólares demais.
Ouvi as autoridades norte-americanas classificarem como tolice as preocupações quanto ao dólar e a excitaçãoao ouro, garantindo que sua moeda era sólida e que o ouro, apenas um metal arcaico. O aumento do ouro era especulação. Na época, eu ainda confiava na honestidade das instituições públicas e de seus porta-vozes. Circulavam relatos de que os europeus não aceitariam mais dólares de turistas americanos.
Então, em um domingo, 15 de agosto de 1971, o presidente Nixon foi à televisão anunciar que os Estados Unidos não manteriam a promessa de permitir que dólares fossem trocados por ouro, o que levoua a moeda a despencar. Como o governo havia prometido não desvalorizar a moeda, assisti ao seu discurso boquiaberto. Em vez de tratar dos problemas fundamentais por trás da pressão sobre o dólar, Nixon continuou a culpar especuladores. Nas décadas seguintes, vi autoridades proferirem garantias semelhantes inúmeras vezes, logo antes de alguma desvalorização da moeda. Aprendi a não acreditar no governo quando ele garante que não permitirá que tal coisa aconteça. Quanto mais veemente são essas promessas, provavelmente mais desesperadora é a situação e, portanto, maiores as chances de haver de fato uma desvalorização. Enquanto ouvia Nixon falar, me perguntei o que esses acontecimentos significavam. O dinheiro como o conhecíamos — um recibo para obter ouro — não existia mais. Não podia ser coisa boa…
Na manhã de segunda-feira entrei no pregão da bolsa esperando um pandemônio. Havia, sim, um pandemônio, mas não do tipo que eu previa: em vez de cair, o mercado de ações tinha dado um salto de 4%.
Para tentar compreender o que se passava, passei o restante daquele verão estudando desvalorização em outros períodos. Aprendi que tudo o que estava acontecendo — a moeda rompendo seu elo com o ouro e desvalorizando, o mercado de ações disparando em reação — já havia acontecido antes, e que relações lógicas de causa e efeito tornavam inevitáveis coisas como essa. Percebi que meu fracasso em antecipar isso tinha a ver com o fato de ter sido surpreendido por algo inédito desde que nascera, embora já tivesse ocorrido muitas vezes antes. A mensagem que a realidade me transmitia era: “É melhor estar cientedo que aconteceu a outras pessoas em outros tempos e outros lugares, senão você não saberá se está suscetível e, caso se concretize, não saberá como lidar com elas”.
Seguiu a onda de impressão de cédulas depois da derrocada do padrão-ouro, a economia e o mercado de ações disparavam.
Teve início a primeira crise do petróleo, e o preço dos galões quadruplicou em questão de meses. A economia desacelerou, os preços das commodities dispararam e, em 1973, o mercado de ações despencou. Em restrospecto, pude ver que as peças do dominó haviam caído segundo uma sequência lógica.
Nesse caso, os gastos excessivos financiados pela dívida dos anos 1960 haviam continuado no início dos anos 1970. O Fed havia financiado essa gastança com políticas de crédito facilitado, mas, ao pagar suas dívidas com papel-moeda desvalorizado, em vez de honrá-las com dólares lastrados em ouro, na prática os Estados Unidos deram um calote. Naturalmente, com toda essa impressão de dinheiro, o dólar desvalorizou. Isso permitiu mais crédito facilitado, que levou a mais gastos. O salto de inflação que se seguiu ao colapso do sistema monetário fez o preço das commodities subirem muito mais. Reagindo a isso, em 1973 o Fed apertou a política monetária, o que bancos centrais fazem quando a inflação e crescimento estão muito acentuados. Esse movimento, por sua vez, causou a pior queda das ações e o pior enfraquecimento da economia desde a Grande Depressão.
A lição? Quando todos pensam a mesma coisa — por exemplo, que o Nifty50 é uma aposta garantida —, isso quase com certeza se reflete no preço, e fazer essa aposta provavelmente será um erro. Também aprendi que para cada ação (como dinheiro e crédito fáceis) há uma consequência (nesse caso, inflação mais alta) que, grosso modo, é proporcional a essa ação, gerando uma reação aproximadamente igual e oposta (aperto monetário) e viradas no mercado.
Eu estava começando a enxergar a repetição de padrões, e isso me fez perceber que quase tudo no mundo é “mais uma daquelas” — a maioria das coisas aconteceu várias vezes antes por razões de causa e efeito lógicas.
As pessoas vão atrás do que está em alta; por causa disso, o investimento em ações saiu de moda após 1973. Negociar commodities virou a nova moda.
Enquanto a economia ia ladeira abaixo, o escândalo de Watergate dominava as manchetes e vi de novo como política e economia se entrelaçam. Essa espiral descendente fez a sociedade mergulhar no pessimismo. Todos venderam suas ações e o mercado continuou a cair. As coisas não podiam piorar muito, mas todos estavam com medo de que isso acontecesse. Era a imagem invertida do que eu havia testemunhado em 1966, quando o mercado estava no auge. Mas, da mesma forma que antes, o consenso estava errado. Quando o pessimismo é a palavra de ordem, as pessoas vendem tudo, os preços geralmente caem muito e o governo precisa agir para melhorar as condições. Não deu outra: o Fed relaxou a política monetária e as ações bateram no fundo do poço em dezembro de 1974.
Ao mesmo tempo que trabalhava em uma corretora, eu também investia por conta própria, e, embora tenha ganhado mais do que perdido ao longo do tempo, só consigo me lembrar dos investimentos que deram errado.
” Para trabalhar com ações é preciso ser cauteloso e agressivo ao mesmo tempo. Sem agressividade não se faz dinheiro e sem cautela não se consegue mantê-lo. É como trabalhar com eletricidade: a qualquer momento pode haver um choque. “
Assim que me formei na Harvard Business School e fui para a Dominick & Dominick, montei paralelamente um pequeno negócio com Bob Scott, um colega de Harvard. Entrando em contato com alguns parceiros em outros países, tentamos, sem muito empenho, exportar commodities dos Estados Unidos.
A sede era o meu apartamento de dois quartos. Quando um colega de faculdade com quem eu dividia o apartamento se mudou, transformei o quarto dele em escritório. Eu trabalhava com outro amigo do rúgbi, e contratamos uma jovem excelente para ser nossa assistente. Eis a Bridgewater.
Meus negócios sempre me levaram a conhecer lugares diferentes e pessoas interessantes. Lucrar com essas viagens é apenas a cereja do bolo.